domingo, 1 de janeiro de 2012

Claudia


Sou fã do MC Donald's. Pode ser símbolo do imperialismo americano, financiar guerras pelo mundo e reduzir seus funcionário à condição análoga à de escravo, obrigando-os a trabalhar até às onze da noite de ano novo e reabrir meia hora depois da queima de fogos, mas manteve o lugar aberto justo no momento em que as únicas coisas que eu precisava eram um lugar pra ficar por cinco horas, uma refeição quente e barata e um lugar pra aliviar a bexiga (ainda que cobrando cinco coroas).

O reveillon em Praga foi uma das coisas mais loucas que eu já vivi, sem exageiro nenhum. Nunca tive a mesma certeza de uma amiga minha de que seu mochilão seria como no filme Eurotrip, mas agora vejo muitas  daquelas coisas acontecendo por aqui.

A primeira coisa a respeito dessa passagem de ano para a minha pessoa é que eu já estava no lixo. Dormi apenas quatro horas após ficar a noite inteira numa boate e depois ainda sai para turistar com uns brasileiros com quem fiz amizade. Só que antes disso tive que fazer o check out no albergue porque não havia lugar disponível naquela noite. Então já sai preparado para a festa às 10 da manhã, sem ter a mínima ideia de como ela seria.

Depois de passar um dia inteiro conhecendo essa cidade encantadora , tive que esperar os brasileiros se arrumarem mofando no MC Donalds. Mas era isso ou ficar no ponto de congelamento da água.

Eles chegaram atrasados no ponto de encontro e eu me desesperei um pouco. Mas no final deu tudo certo.

Ou melhor, depende muito das definições de "tudo" e de "certo".

Uma coisa interessante sobre o Réveillon de Praga é que é meio parecido com o São João. Até onde pude perceber, você só não acha fogueiras em frente às casas. De resto é igualzinho a uma briga de espadas em Cruz das Almas.

A rua estava cheia de turistas do mundo inteiro. Já tinha enchido o saco de encontrar brasileiros, mas dessa vez o que mais encheu foram os italianos.

Eram os mais escandalosos e só se via grupinhos deles gritando "vaffancullo" e soltando fogos. Jogavam bombas, rojões e até chuvinha eles tinham nas mãos. Só faltaram os buscapés para que eu me sentisse atravessando a rua do Barril em Nova Soure em junho.

A questão mais complicada é que em Nova Soure não tem patrimônio histórico tombado pela ONU (ainda), mas Praga tem. Eles (sobretudo a italianada) estava soltando os fogos incomodamente próximos ao relógio de Praga e a outros prédios históricos. A polícia ficava só olhando.

Algo mais interessante ainda é o show de fogos da cidade. Pelo que vi foram uns quinze minutos de um espetáculo inacreditavelmente belo. É claro que em muitas outras cidades deve haver fogos bonitos assim, mas Praga ganha por uma coisa: interatividade.

O negócio é no meio da Carl's Bridge. A prefeitura promove os fogos principais, mas da multidão só se veem gaiatos querendo fazer concorrência. Você não sabe se fica admirando tudo aquilo ou se teme pela sua vida, porque os fogos batem nos prédios e voltam na sua direção e estouram perto da sua cara. Do meu lado mesmo, tinha uma árvore pegando fogo.

Mas foi um espetáculo realmente incrível.



A festa foi ainda mais maluca.

Primeiro porque nos perdemos do grupo original. A muvuca na rua estava tão grande, que quando caminhávamos em direção à ponte, quase morremos pisoteados como a fã de Rebelde no show em São Paulo. Do nada a multidão começou a empurrar para trás deixou difícil manter o equilíbrio (incluindo o mental).

Acabou que ficamos só eu, duas brasileiras que conheci pelo Facebook (Amanda e Renata), um trainee que veio fazer intercambio na cidade (Eugênio) e dois argentinos que as meninas conheceram em Varsóvia que apareceram lá só para a festa (Guillermo e Julian).

Depois dos fogos saímos feitos doidos pela cidade atrás de um pub ou algo parecido. Achamos alguns bem legais, mas na hora de entrar avisavam que estava lotado.

Paramos num mercadinho (que supria os italianos com os fogos) e compramos algumas cervejas. Escolhemos as mais quentes porque elas gelariam rápido assim que saíssemos na rua. Sério. Ao sair encontramos um trio de portugueses e ficamos conversando muito.



Depois de muito rodar chegamos a um lugar nada a ver: uma espécie de boate improvisada so saguão de um shopping. Estava bombando. O bom é que era de graça entrada. O mais tenso era que tinham uns três mendigos lá dentro que entraram pra espantar o frio e aproveitaram a viagem. Um deles inclusive ficou queixando uma piriguete drogada que se esfregava em todo mundo.

Nessa hora perdi minha raiva dos italianos. Juntou-se a nós um grupo muito gente boa vindo de Torino e conversamos muito o tempo inteiro. Eles não falavam inglês e as aulas de Silvia tiveram que servir pra me fazer de tradutor.


 

Depois ainda fomos no MC Donald's comer e de lá seguimos pra outra boate. A que conhecemos na noite anterior e onde passei uma noite não dormida.

De lá, às 7 da matina (com cara de quatro da madrugada) ainda fui tirar um cochilo na casa de dois outros trainees (Vitor e Leo) para não ficar no sereno porque ainda não podia entrar no hostel.

Agora cá estou eu, mais uma vez nesse maravilhoso estabelecimento que escraviza seus funcionários para me dar abrigo, à uma e meia da tarde, esperando dar três pra poder dar check-in de novo, e escrevendo esse texto do celular para fazer o tempo passar.

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