quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Agatha

Uma das primeiras coisas que se aprende durante um mochilão é que seu corpo é transformado num imã de enrascadas.


Você observa uma situação. Ela exala uma aura de que não vai terminar bem. Praticamente existe uma placa enorme avisando para não ir e todo mundo fala que é uma grande maluquice, mas não adianta. A vontade de se jogar é maior.


No meu caso, uma das maiores enrascadas que me meti foi a festa no metrô de Paris. Acho que eles chamam de  Apéro-Métro. Não sei bem e agora perdi toda e qualquer vontade de procurar saber.


Recebi o convite do evento no Facebook e juntou a falta do que fazer, o baixo custo, a vontade de conhecer a noite da Cidade Luz e mais o fascínio pelo non-sense e resolvi ir pra esse flashmob.


E ainda tinha companhia. Primeiro de David que conheci em Praga e de uma paulista que estava no hostel e me ouviu conversar sobre a festa e se interessou, Agatha.


A ideia basicamente consistia em juntar um grupo numa estação qualquer e todo mundo sair rodando e terminar num bar de Montmatre. Eles mesmos disseram que caso alguém perdesse o primeiro encontro era melhor seguir direto pro destino final, em virtude de ser uma festa móvel.


Óbvia e coincidentemente, sem planejamento algum eu e Agatha pegamos justamente o metrô onde a festa estava acontecendo.




(O combinado era que todo mundo fosse de branco com algum detalhe vermelho. Só o brother forever alone seguiu.)

Ver um negócio desses faz você entender porque inventaram coisas como casas para se fazer uma festa e não vagões em movimento.


Já cheguei lá com a parte do metrô quase acabada, porque eram só duas estações para chegar no tal bar. A galera já estava bêbada, já tinha vômito no chão, o vagão fedia a álcool e tudo mais que tem direito num fim de festa baixo-astral. E tudo isso sem música e com o povo em pé. Do meu lado ainda tinha um barbudo morto de bêbado que insistentemente paquerava uma mulher sentada que entrou ali sem grandes desejos além de chegar em casa tranquilamente e se deparou com uma sucursal do inferno. Ela resmungava baixinho, provavelmente uma prece.





Depois todo mundo saiu para a rua dos sex shops de Montmatre, subiram nos postes, gritaram o nome da festa, beberam mais e correram em direção ao bar na hora que o carro da polícia passou.


Uma coisa que pude perceber na França é que boa parte das leis são respeitadas. Sobretudo as da Física. O bar era mais ou menos do tamanho de um ônibus de Salvador. Se fosse lá, todo mundo caberia de alguma forma, pois não importa quantos corpos, todos eles podem ocupar o mesmo espaço. Mas lá não.


Para mim, Agatha e David, que encontramos mais tarde, restou ficar ali fora conversando e vendo os outros passarem falando babaquices, superanimados com aquela festa maravilhosa.


Depois fomos na Subway na esperança de encontrar algum lugar quentinho e gratuito para urinar. Em seguida tomamos uma cerveja num bar cheio de tiozões que se balançavam de qualquer jeito ao som de músicas dos anos 70 e chamavam aquilo de dança. No final, resolvemos ir pra casa.


E aí o bicho pegou mais ainda.
Sem metrô, o que fazer?
O tabaréu que acha que tudo na Europa é melhor certamente responde: Nightbus!


O plano era realmente pegar o ônibus noturno, tendo que fazer umas baldeações malucas e depois ainda perguntar pra qualquer senhor simpático que às 3 da manhã estivesse disposto a dar informações. 


Não fazíamos a mínima ideia do que tínhamos que fazer. Erramos umas duas vezes, tivemos que caminhar de madrugada, sambar de frio e ainda ver nossa alma sair dolorosamente pela nossa boca em forma de fumacinha.


Mas sobrevivemos.

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