quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Joaquim


A chegada em Lisboa foi bem tranquila. A passagem pela imigração também. O problema mesmo foram as filas, que não acabavam mais. O bom é que passo a crer que a existência de gente lerda não é problema exclusivo do Brasil.


Tive só um susto, por causa da mala. Já levo comigo a experiência de uma amiga turca que foi fazer o intercâmbio em Salvador e teve a bagagem extraviada pela companhia aérea. Antes mesmo de se apresentar às pessoas, ela dizia: I lost my luggage. Foi uma ladainha que me deixou traumatizado.


Como por causa do horário dos voos, perdi a conexão para Praga hoje, pude passar um dia em Lisboa e me hospedar num hotel às custas da TAP. Hotel Roma, a dez minutos do aeroporto. É tipo um Ibis mais acabadinho.


Eu sei que já é assunto batido a diferença dos idiomas, mas não tenho como deixar de comentar. Algumas vezes é simplesmente ininteligível o que eles falam. Aquela voz do aeroporto, que em qualquer lugar do mundo tem um inglês péssimo, falava um português ainda pior. E como eu não conheço nada por aqui, passei o dia inteiro pedindo informações. Saí como o retardado, porque simplesmente não entendia porra nenhuma do que eles diziam. Fora que em algumas situações tive que me segurar para não rir na cara das pessoas. Eles usam muito o diminutivo. É engraçado ver um senhor parrudo dizer "obrigadinho".


O povo do hotel com certeza acha que eu sou demente. Primeiro não sabia ligar a luz. Tentei de tudo quanto foi forma. Até me atrevi a mexer no quadro geral, sem sucesso. Eu sabia que tinha que colocar aquele cartão que eles dão na entrada num lugar específico, mas tinha que apertar bem. E pior ainda foi usar o banheiro. Era uma banheira, mas como estava com pressa, queria usar a ducha que tinha. Quem disse que eu consegui ligar? Mas não quis parecer ainda mais burro de perguntar na recepção.


O passeio pela cidade foi bem legal. 
Nunca morri de amores por conhecer Lisboa, mas como surgiu a oportunidade, não ia ficar trancado no quarto mofando.


Peguei um mapa na recepção e me aventurei. Sou horrível para andar até mesmo em lugares conhecidos, então não era surpresa que ia me perder. Me perdi várias vezes e o pior é que era em lugares tensos. 


Mas a culpa também é dos portugueses. Além da dificuldade de entender o que eles falam, eles não são bons para dar instruções. Quando um chega e diz para você "Sigas direto e depois subas", isso quer dizer mais ou menos "siga, dobre à esquerda quando a rua cehgar ao fim, entre numa viela, depois em outra, depois em outra e chegue no lugar completamente diferente do esperado".


Não sabia que Lisboa tinha tantas vielas. São muitas. Tendendo ao infinito. E lúgubres. A própria Morte deve ter morada em algum daqueles casebres que exalam uma energia pesada. Lembram muito o Pelourinho de Salvador. Só que lá, apesar de provavelmente ser mais violento, tem um ar diferente. No mínimo vai estar tocando um arrocha e quando o assaltante vier querer tomar seu celular, ele vai te chamar de meu brother e vai sair agradecendo.


As vielas de Lisboa além de intermináveis, são frias, cinzentas e dão a nítida impressão que vai existir um crime na próxima esquina.


Comigo quase existiu. Não sei por que cargas d'água resolvi entrar por elas. Até sei. Estava andando sem destino, mas tinha uma leve intenção de conhecer o Castelo de São Jorge, que fica no bairro da Mouraria.


Obviamente não encontrei o castelo nessa situação. Mas encontrei um cara muito estranho e muito mal encarado que perguntou se eu estava perdido. Eu disse que não e continuei andando. Olhei para trás e ele perguntou de novo. Dei as costas e disse que não balançando o dedo.


Apressei mais ainda o passo e dobrei a esquina. Até então estava tudo deserto, mas por sorte tinha um casal de turistas na rua onde eu saí. Um segundo depois o brother já tinha descido correndo e resmungando um monte de coisas que eu não entendi. Fiquei todo arrepiado achando que minha viagem acabaria ali.


O casal de turistas tentou continuar seu passeio tranquilamente. Mas se eles não queriam ser solidários por bem, que ao menos servissem de escudo. O tempo todo fiquei entre o casal e o maluco. Não entendi se de alguma forma eu o ofendi ou se eram apenas as drogas, mas não me atrevi a pedir esclarecimentos.


Os passos apressados dos turistas deram numa viela que pela graça divina eu conhecia. Saí correndo e voltei para a orla da cidade, que é muito parecida com o bairro do Comércio em Salvador, pelo menos o lugar onde eu estava.


Por um tempo achei que o cara estava me seguindo, mas depois vi que não. 


Mas acabei me perdendo de novo. Só que dessa vez foi bom, porque isso me levou ao tal Castelo de São Jorge. Olhei umas coisinhas mas nem pude entrar, porque era pago. Não quis pegar a fila porque já estava anoitecendo e não tinha certeza se aceitariam meu Visa Travel Money.


(Acho que essa agora é minha sina. Nos bons tempos em que tinha auxílio alimentação, ficava perguntando em todo lugar que eu fosse se aceitava Visa Vale. Agora tenho que ficar perguntando se aceita Visa Travel Money. E o pior que é um monte de lugar em Lisboa só se aceitam Multibancos Portugueses, seja lá o que isso quer dizer.)


Ainda me perdi mais uma vez nesse dia. Resolvi ir para o Bairro Alto, que me disseram ser um lugar boêmio cheio de barzinhos. Inventei de ir. Até foi fácil de chegar lá. Fiquei rodando por aquelas vielas malditas, mas o que eu queria às seis da tarde de uma quarta-feira de inverno?


O bicho pegou na hora de voltar. Achava que já estava acostumado de subir e descer ladeiras em Salvador, mas quem disse...


(O que eu conheci de Lisboa e o que fiz pra chegar lá)


Quando finalmente cheguei no Hotel foi com a língua no chão.


Mas foi realmente um dia ótimo. E nem foi toda hora que me perdi. A Praça do Comércio foi um lugar absurdamente interessante. Vi apresentações musicas de rua bem legais que fizeram o dia ser bem diferente até do que eu esperava, como essa:



quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Solange

Como é óbvio desde que o mundo é mundo, os maiores perrengues acontecem nas piores horas possíveis.

A correria para os últimos preparativos começou cedo. Saí para comprar cadeados, remédios e mais bugingangas. Depois coloquei tudo na mala. Arrumei e desarrumei só para arrumar de novo. Ainda organizei orçamento, imprimi roteiros de como chegar do aeroporto aos albergues e mais o diabo a quatro. No fim só continuava mesmo aquela sensação de que algo importante seria esquecido.

Mas ao mesmo tempo era aquele marasmo. A viagem ali na minha cara e eu não estava assim tão estressado.

Umas quatro da tarde minha tia passou na minha casa para me buscar e ao sair do playground, a alça da mochila rompe e cai tudo no chão.

Minha tia Solange e minha mãe surtam, ficam pensando nos lugares para ir comprar, elaboram roteiros alternativos, antecipam o jantar, perdem a novela e querem que eu vá sem tomar banho. Tudo para dar tempo de comprar uma mochila nova.

E não sei por que, fiquei impertubável. Era para ter ficado um pouquinho nervoso com a situação.
(Every little thing is gonna be alright)

Mas deu tudo certo. Compramos até uma mochila maior. E chegamos ao aeroporto muitíssimo antes.

Meus últimos momentos no Brasil foram em filas. E me despedi do país com pequenos barracos ao meu redor.

O mais engraçado foi por causa da fila do portão de embarque. Inicialmente havia uma, mas o segurança do aeroporto separou em duas. Quando a primeira foi atendida por inteiro, pararam. Eu já estava há uma hora esperando. De repente, as pessoas começaram a se aglomerar no lugar da primeira fila e querem entrar na nossa frente.

Eu não fui falar com ninguém, mas fiz minha parte. Comecei o burburinho para que o povo da minha fila se revoltasse e fosse reclamar. Funcionou.

O voo para Lisboa foi tranquilo. Dormi grande parte. Ou pelo menos o que me deixou uma criança zoadenta que felizmente sentou do meu lado. Conversou a noite inteira.

Queriam saber se a comida da TAP era ruim. Não achei nem ruim nem boa. Normal. Até que tinha muita coisa. Um arroz com frango, uma salada, dois pães secos, um biscoito cream cracker. O pão era ruim, mas colocando um pedacinho de frango dentro dava para engolir de boa. De sobremesa havia um doce estranho. Era feito da farofa do pão de farofa com umas coisas coloridas dentro que eu desconfio ser frutas cristalizadas.

Coloquei o fone de ouvido para escutar a rádio e de repente ouvi o sotaque português. A ficha caiu. A música era igual à comida. Nem ruim, nem boa, e colocando um pedacinho de frango dentro dava para engolir de boa.

Então aterrissei. Aí o negócio fica sério.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Aparecida



A tarefa de arrumar a mala é a pior de todas. 
Mas também é uma das mais emocionantes. Comprar passagens, fazer seguro, planejar itinerário... nada disso faz aumentar a adrenalina. 

É só quando a gente percebe que tem muita coisa para colocar e pouco espaço disponível é que dá para ver que o bicho está pegando mesmo. A gente começa tentando dobrar tudo direitinho, mas depois termina colocando tudo de qualquer jeito e subindo na mala para caber.


No meu caso ainda tive a ajuda prestimosa de minha mãe, que desde quando soube da minha viagem surtou mais do que eu.

Faltando exatamente 24 horas para meu voo, minhas malas estavam assim:



Confesso que o ato de arrumar a bagagem em si foi até fácil. Difícil foi convencer minha mãe de que não precisava colocar duas escovas de dentes, três vidros de perfumes e muito menos meu guarda-roupa inteiro.

Mal no final ainda fiquei com a impressão de que vou esquecer coisas. Mas fazer o quê? É a vida...


domingo, 25 de dezembro de 2011

Ciro



Já faz um bom tempo que eu não escrevo. Se algum dia tive alguma habilidade, provavelmente ela se perdeu. A última experiência com blog que eu tive foi realmente muito boa e posso dizer que até fiz amigos com ela.

Mas eram tempos diferentes. O Orkut era soberano, havia espaço para publicar qualquer tipo de merda, o tempo contorcia-se sobre si mesmo e num dia dava para fazer tudo que se quisesse. As crianças não sofriam bullying, a vida dos outros era mais interessante, contos de fadas não escondiam zoofilia, escravidão e apologia às drogas, os homens eram homens de verdade, as mulheres eram mulheres de verdade e as criaturinhas peludas de Alpha Centauri eram criaturinhas peludas de Alpha Centauri de verdade.

Não sei o que me espera nessa nova empreitada, de redes sociais mais possantes, de público mais exigente e num mundo onde Nira Guerrreira é considerada a rainha do Arrocha.

Eu viajo.

Ou melhor, vou viajar. O objetivo desse blog é falar da minha viagem.
Talvez até em sentido amplo. Das minhas viagens.

A primeira coisa que deveria ser explicada é o nome do blog. Obviamente uma boa percentagem de quem vai ler isso daqui já vai entender de cara. (Isso dá umas 5 pessoas...)
A segunda opção seria A Song of Ice and Soure, sugerida por um amigo iluminado. Absurdamente criativo, mas grande demais e mais difícil ainda de fazer os não iniciados entenderem.

Tenho que explicar só pra você, criatura que ainda não sabe a resposta para a questão fundamental para a vida, o universo e tudo mais.

O título do blog é tão-somente o maior conselho que se poderia dar a um viajante. Quando o universo acabar, tudo o que você precisará é de uma toalha. As utilidades são muitas e não vou citar todas. Mas no meu caso específico, a primeira delas é: em boa parte dos hostels da Europa ou você aluga uma ou leva a sua.
Ao longo dos posts é altamente provável que você descubra outras utilidades. Minha meta pessoal é encontrar 42.

A ideia era ser um pouquinho menos prolixo que no meu antigo blog, mas acho que vai ser difícil. Por isso, vou querer mais ajuda da galera, comentando e exculhambando quando necessário pra eu parar de divagar.
Também seria bom que eu fizesse uma rápida apresentação para caso alguém que não tenha sido violentamente coagido a ler esse pedaço de matéria fecal literária sinta-se contextualizado. Tipo, dizer que me chamo Ciro Moraes, tenho 21 anos, estudo Direito, moro em Salvador, Bahia, Brasil e que muito breve vou fazer um intercâmbio social em um país do Leste Europeu.

Mas fiquei sem saco para apresentações.
Depois volto com coisas menos irrelevantes.